quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Rosa Vermelha em Quarto Escuro


"Teve na sua vida uma grande aventura. Não espera vir a ter outra. É preciso uma grande inconsciência e uma enorme coragem para viver uma grande aventura. Ela não precisa de uma outra aventura. Seria por demais cansativo, arriscado, perigoso. Sobretudo talvez deseje que não tenha sido simplesmente uma grande aventura mas sim a sua única grande aventura. Numa vida só deve haver lugar para uma aventura, comentou um dia quando estava a almoçar com uma antiga amiga do liceu. A amiga percebeu, julgou perceber ou fingiu perceber. Retomaram de imediato a conversa por outros assuntos mais vantajosos. Em certas circunstâncias corre-se o risco de ficar a pairar. É preciso retomar o movimento das palavras e dos gestos. As palavras quando imobilizadas perdem todo o sentido. Como quando são inúmeras vezes repetidas. Tornam-se ocas. Soube disto claramente quando disse a Aysha que a amava. Amo-te, disse ela naquela primeira de todas as noites. Fez-se um enorme silêncio à volta daquela palavra. Repetia a palavra e voltava a repetir como se não alcançasse o que queria. Amo-te muito. Amo-te toda. Amo-te tanto. Amo-te mais do que me é permitido. No melhor dos casos adormeciam muito agarradas. O medo de se perderem uma da outra durante o sono que tudo apaga."
Pedro Paixão

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